O que produzimos?
Iniciamos juntos em plano baixo e em pausa, realizando respirações profundas para evidenciar o movimento interno ainda em repouso. Depois criamos e desfazemos formas e posições de encaixe um no outro.
Aos poucos vamos nos deslocando pelo espaço durante as criações das formas e em seguida entramos em pausa e mantemos a forma feita; respiramos profundamente por um tempo e depois a desfazemos. Seguimos em movimento e deslocamento pelo espaço nos entrelaçando um no outro, nos novelos presentes no espaço e no figurino um do outro.
Transitamos do plano baixo para o médio gradativamente com o objetivo de seguirmos um trajeto no espaço, utilizando a relação de peso e contrapeso; apoios; resistência; ceder e empurrar com relação ao chão e um ao outro. No plano alto continuamos com a relação de peso um no outro e começamos aos poucos a chacoalhar juntos em alguma posição encontrada no momento. Este chacoalhar é intensificado até nos eclodir, criando uma separação repentina em nós dois.

Neste momento, realizamos solos simultâneos com dois momentos mas que são um só, expressos de maneiras diferentes: Um momento introspectivo com a qualidade do tempo lento e outro extrospectivo na qualidade do tempo rápido. É evidenciado o expandir e o recolher; a busca em criar volume de dentro pra fora; a concentração das tensões em diferentes partes do corpo, relaxar e tensionar todo o corpo. Os solos são simultâneos no tempo mas opostos nos momentos (enquanto um está no introspectivo e lento; o outro está no extrospectivo e rápido) para evidenciar um ao outro, já que a maior parte do tempo estamos juntos. Estes dois solos é a exposição do universo interno que temos, onde ocorrem os processos de descoberta em solitude e depois os expressamos externamente.
Finalizando a cena, nos aproximamos gradativamente pelo fio condutor (novelo) e voltamos a usar o peso, contrapeso e ceder um no outro. Transitamos do plano médio ao plano baixo, cedendo mais ainda um no outro e começamos a olhar para nosso público que está ao nosso redor, expandindo nossa relação íntima para o entorno. Terminamos cedendo ao chão, em plano baixo, com nossos olhos fixos ao externo e não mais à nós dois e a nós mesmos.
O que fica?
Através desta pesquisa teórica e prática, nós entendemos que é necessário criarmos espaços internos para haver novas possibilidades enquanto corpos dançantes e viventes. O espaço interno é alçado por meio da respiração e ela nos traz vida (transporte do oxigênio pelas articulações). O tempo todo estamos tensionados, por conta do centro de força (local com maior concentração de tensões em uma pessoa) e onde há tensões, há interrupção nos fluxos de vida e de possibilidades. Por isso é importante exercitarmos constantemente a atenção a nós mesmos, a como estamos corporalmente e como permitimos que as vivências externas nos afetem. Para encontrarmos um equilíbrio intelectual, emocional e físico. E entendemos que a tonificação corporal é um dos meios para alcançarmos a plenitude de nós mesmos, a atenção para si e para o agora - o estado de presença.
Sabemos que este trabalho não finaliza aqui, pelo contrário, está apenas no começo e este é um recorte do que temos e podemos compartilhar hoje. É um produto vivo e moldável, em constantes mudanças como nós dois. Por ser um estudo com pensamento contemporâneo, seu exercício é diário e constante, em fluxo e variável.
Quais são nossas referências?
VIANNA, Klaus. A Dança. São Paulo: Summus, 2005.
Gil, José. Movimento Total: O corpo e a dança. São Paulo: Iluminuras, 2004.
DASCAL, Miriam. Eutonia: O saber do corpo. São Paulo: Senac, 2005.
CAFÉ FILOSÓFICO. O que pode o corpo?. Youtube, 20 de setembro de 2018. Disponível em: . Acesso: agosto de 2021.
Entendemos que nossos corpos são capazes de muito mais que imaginamos e o permitimos. E que somado a outros corpos (pessoas, objetos, lugares) ele é ainda mais potencializado.

É possível controlarmos nosso tônus e distribuirmos nossas tensões musculares a outras regiões corpóreas, criando uma dominação maior sobre o que sentimos e como lidamos com isso. Pois toda reação interna ocorre por conta de situações externas que vivenciamos.

chat 1

Produção do vídeo 1: @tiunox

Captura das fotos: @mary.dos.anjos
Também é necessário o repouso na vida (mesmo que de forma forçada). Pois sempre haverão limitações em cada novo dia. Precisamos saber como lidar com esses impedimentos, permitindo que façam parte de nós, rompendo-os ou dançando com eles. E conseguimos isso por meio do repouso - pausa que possue movimento e fluxo interno.
CRÉDITOS
somos fluxo
somos teia
somso vida
somos pulmões
somos árvores
somos gente
somos sementes
somos fáscias
somos movimento
somos pulsação
somos fluídos
somos inconstantes
somos mudança
somos novo
somos humanos
Há uma trava muito difícil de desprender. Há uma resistência muito presente na soltura do músculo.
ANASTÁCIO, Luiz Fernando da Silva. Da Silva: os que ficaram, os que voltaram. São Paulo: Grandir Produções, 2021.

"Entender que o corpo sempre está em movimento é essencial [...]. Tudo aquilo gerado e sentido pelo corpo de forma integrada, sem limitá-lo à sua constituição física, é movimento.[...] gerar movimento não se limita ao eu físico na literalidade de movimentar a massa composta por músculos e por órgãos de forma segregada. Movimentar o corpo é um estado de existência permanente, seja na ideia, memória, massa corporal, nas ondas sonoras, no tempo, nas dimensões, no espaço, objetos no parado, no eu, no outro, estando no plano que ocupamos ou não." (p.17)
VIANNA, Klaus. A Dança. São Pualo: Summus, 2005.

"Em sentido mais amplo a ideia de espaço está intimamente ligada à ideia de respiração - que ao contrário do que pensamos, não se resume a entrada e a saída do ar pelo nariz. Na verdade, o corpo não respira apenas através dos pulmões. Em linguagem corporal, fechar, calcificar e endurecer são sinônimos de asfixia, degeneração, esterilidade. Respirar, ao contrário, significa abrir, dar espaço. Por tanto, subtrair os espaços corporais é o mesmo que impedir a respiração, bloqueando o ritmo livre e natural dos movimentos. Imagem muito forte de nossa emoção, a respiração reapresenta nossa troca com o mundo." (p.71)