Estou passando por vários processos enquanto artista; me reconhecendo desta forma e entendendo o que quero fazer através da minha Arte. No começo, foi difícil não ver minha pesquisa de TCC como a maior pesquisa da minha vida. Porque tudo me foi tão novo, com várias possibilidades e temas diferentes a serem elaborados, que me sentia instigada a muitas coisas e tudo me despertava interesse. Quando fizemos um trabalho chamado "Corpo-Mente" no final do 1° módulo, baseado nas teses de Merleau-Ponty sobre a conexão do corpo (estrutura) sendo uma só, eu tive certeza de que meu trabalho seria sobre esse tema de alguma forma, por tamanho fascínio.
No 2° módulo, Corpo-Mente ainda me fascinava (e continua até hoje) mas com novas aulas e novas perspectivas, tive novos anseios. Me lembrei de uma atividade sobre árvore genealógica feita nas aulas de Danças Étnicas e de como foi difícil fazê-la. Pois ao mesmo tempo que a proposta me instigou, houve uma crise por não conhecer minha ancestralidade. Decidi então, me aprofundar no assunto e usar essas crises como dispositivo para minha pesquisa. Entretanto, percebi que conhecer e ser envolvida pela minha ancestralidade é algo que demandará minha vida inteira, pois seis meses não seriam suficientes para a profundidade que anseio. Mais crises vieram, pois agora eu não sabia o que pesquisar, o que fazer, sobre o que falar. No final do 2º módulo, ainda me questionava sobre quais áreas de conhecimento dentro da Dança eu me identificava e nisso, relacionei com outros questionamentos sobre ser e estar; despertando em mim um desejo em entender mais sobre Dança Performance.
Chacoalhar para alcançar
Nós como uma dupla...
Durante o meu processo de pesquisa individual (Le), o olhar foi meu novo dispositivo de estudo e através dele pesquisei como me movimento a partir dele e como ele influencia minhas movimentações. Mas isso não me foi suficiente. Comecei a usar os outros sentidos também e questionamentos sobre como estar presente e inteira no que faço. Mesmo fazendo muito sentido (e é uma pesquisa que irei me aprofundar futuramente), ainda faltava algo. Algo que eu não sabia o nome, nem a forma, nem o porquê.
Foi quando notei a grande necessidade de outro algo junto às minhas experimentações, para alcançar esse novo “estado” que eu não sabia nomear, um algo mais intenso do que uma qualidade de movimento específica. Conversando com o Vico, entendi: É o outro corpo. Mas não no sentido de falta; e sim, complementar.
O que fazer com o nosso vazio?
Usamos o prólogo do livro “Movimento Total - O corpo e a dança” de José Gil como base e consolo para pensamentos e sensações que não sabíamos nomear, mas que o tempo todo fizeram (e fazem) sentido. Pois nossos anseios sempre estiveram relacionados a desconstruir a ideia do que é o corpo e buscar entendermos juntos sua complexidade. E isso já é complexo por si só.
Antes de nos tornarmos um, já usávamos objetos cênicos (mesmo sem notarmos) em nossas práticas Le- venda e espelho; Vico- cadeira, mesa e fios. Conversando sobre, decidimos usar um tipo específico: tecidos, panos e fios.
Realizamos muitas experimentações práticas com eles, possuindo texturas, tamanhos, cores, funções e formas diferentes. E percebemos que cada um gera sensações, pensamentos e movimentos diferentes em nós dois juntos e separados. Nisso, experimentamos no movimento primeiro para depois verbalizarmos o sentido e o significado.


Eu tenho alguns anos como estudante da Dança e da Arte de modo geral. Meu primeiro contato foi com a Capoeira, por influência do meu pai que é Mestre. Mas no decorrer dos anos, percebi que meu foco estava em agradá-lo e não na cultura e resistência do jogo em si. Aos meus nove anos, decidi entrar em um projeto de Ballet na escola que estudei o Fund. I e II, onde não havia uma técnica específica e nem certificação. Mas só o fato de vivenciar e experimentar algo que eu realmente me identificava, foi suficiente.
Em 2019, entrei em profundas reflexões sobre qual profissão eu seguiria durante uma pausa forçada em todas as minhas atividades artísticas (pois também tive contato com o Teatro de palco, Ginástica Rítmica e Ginástica Artística), conclui que realmente eu sou artista e quero viver por meio da Arte todos os dias da minha vida. Então, cursei aulas de Ateliê de Ballet na Fábrica de Cultura de Sapopemba em 2021, mas me lesionei e entrei em pausa novamente. No mesmo ano, conheci mais a fundo a Etec de Artes (pois já havia ouvido superficialmente sobre ela) e considerei a possibilidade de cursar em tal. Em agosto de 2021, entrei no 1° módulo do curso de Dança da Etec de Artes durante a pandemia do vírus da Covid-19. E a partir deste grande marco em minha vida, minha forma de pensar o que é Arte, o que é o corpo, quem eu sou enquanto corpo dançante e fazedora de Arte e como me relaciono com o mundo, mudou.
Le, de onde tu veio?
Eu comecei a entender a importância da dança para mim em 2015-16, quando estava pensando em cursar Arquitetura e Urbanismo, mas não sentia que era realmente aquele curso que me satisfazia. Refletindo com um amigo sobre o que me satisfazia no tempo da escola, parei para pensar que dança era o que mais me dava prazer e passei a notar que sempre dancei em todos os anos de colégio. Desde então, passei a ter outra visão em relação à dança. Dessa vez eu a via como uma possibilidade de carreira profissional, mas não estava sabendo como me inserir nesse meio. Em 2015/2016 resolvi fazer alguma aula de dança e me deparei com o Contato e Improvisação, decidi começar por ele e acabei fazendo por 1 ano e meio. Assim que o curso foi encerrado eu continuava com a necessidade de entender outras formas de dançar e resolvi fazer oficinas de dança contemporânea nos anos seguintes, passei brevemente também pela dança afro-contemporânea (fiz por 2 meses).
Em 2018 recebi um convite para me apresentar em um evento que estava acontecendo em uma Casa de Cultura do Jd. Pery. Alto. Aceitei passar pela experiência de apresentar algo autoral, mas no processo de criação eu sentia falta de algo, que na época eu não sabia muito bem o que era. Assim que entrei na Etec, notei que o que eu sentia falta naquela época era de saber mais sobre a parte teórica da dança; sem saber dar nome a alguns movimentos, me parecia que a dança estava vazia de sentido. Em 2019, uma professora de dança contemporânea e ex-aluna de dança da etec de artes me recomendou fazer a inscrição para tentar entrar no curso de dança da etec também. Tentei, mas não passei na prova prática. Resolvi continuar fazendo oficinas de dança contemporânea até que chegou um momento que senti necessidade de saber de forma mais profunda e então resolvi me inscrever novamente para a prova no ano de 2021 e acabei passando nos dois processos e entrei no 1º módulo no final do mês de julho. Desde que entrei no curso de dança da Etec de Artes, minha visão sobre o que é dança e a forma que vejo meu corpo só amadurece a cada dia, e cada vez mais percebo que dança é a minha profissão.
Vico, tu é de onde?
Já dentro do curso, eu comecei a me entender quanto artista e notar o quão importante estava sendo aprender todas as disciplinas do primeiro módulo, especialmente as matérias teóricas. No começo foi um pouco difícil para eu me acostumar a dançar para a tela do meu notebook, já que começamos online via plataforma Microsoft Teams, mas com o tempo fui me acostumando. Foi em um exercício de percepção e contato que me percebi cinestésico, durante a atividade enxerguei a metade de meu corpo azul e eu comecei a pensar em usar essa experiência como dispositivo para pesquisa de TCC. Aos poucos fui entendendo que era cedo demais para pensar no tema da pesquisa e fui me desapegando dessa idealização. No segundo módulo eu já estava com outra ideia na cabeça, desta vez era o corpo-objeto que me preenchia. O objeto cênico se misturando com o corpo do bailarino foi algo que passei a perceber mais nos espetáculos em que eu assistia, e foi através do TCC do Douglas Aranha (CORPOBJETO) que passei a perceber que a junção do corpo e do objeto se transformava em um terceiro corpo.
E dentro do curso, Vico?
Chacoalhar para alcançar...
Chacoalhar para alcançar
Chacoalhar para alcançar
Como está sendo na Etec, Le?
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Enovelar.desnovelar.novelar.velar.desvelar.abraçar.extensão.expansão.ceder.empurrar.ser.estar
Meu estudo pelo olhar começou pela busca em encontrar adinkras pelas ruas (atividade de Danças Brasileiras no 2° módulo) e isso me fez prestar mais atenção ao meu redor, estar atenta e notar cada mínimo detalhe do meu entorno (construindo a visão periférica). Como consequência, os outros sentidos também ficaram mais sensíveis. Como exemplo: conseguir sentir feitos de forma mais intensa, ouvir sons e ruídos que eu ignorava durante meu dia e sentir o ambiente pela pele (O vento bater em mim, por exemplo).
Todas essas ativações sensoriais me ajudaram a ser mais presente.
Durante as aulas de PTCC no 2° módulo, formamos um grupo de pesquisa compartilhada, com a Mary e a Vivi, onde cada um possuía um interesse de pesquisa individual, mas o dispositivo era o mesmo: Estado de Presença Cênica.
Nos baseando no texto “Bom Tônus” do livro “Eutonia: O Saber do Corpo” de Miriam Dascal, passamos a nos questionar em como alcançar uma tonificação corporal a partir da necessidade de cada qualidade de movimento estudada.
O exercício de chacoalhar nos ajudou a ter uma outra relação com o tônus, tivemos uma consciência e fluência maior. Percebemos que o chacoalhar era o nosso dispositivo para qualquer movimento dançado. E através dele buscamos juntos alcançar cada vez mais atenção para o agora, para nós mesmos e nosso mover; e então focarmos na intenção da cena.
No 3º módulo, cada aluno se aprofundou em suas pesquisas individuais, mas continuamos trocando experiências, textos, sensações das práticas e cada novo processo. E para nós (Vico e Le) fez sentido continuarmos juntos, desta vez, não como grupo, mas como dupla.